PÁRA

Hoje cruzei-me com este poema… e numa semana em que já o Pe Alberto Brito nos chamava a atenção sobre diálogos de esperança, fez-me sentido a sua leitura, primeira e segunda, a terceira também, para saborear a benção dos recomeços, e ainda uma quarta para brindar a todas as vidas que por estas alturas recomeçam, porque todas estas se baseiam em histórias verdadeiras.

BENDITAS SEJAM AS HISTÓRIAS

Benditas sejam as histórias do princípio de tudo
porque são limpas e são puras como mel
e como a água que a palavra perfeita converte
em leite ou em espuma na boca atónica dos crentes.
Benditas sejam, para sempre, as histórias
que me fizeram acreditar na bondade dos homens
antes que a vida me tivesse conduzido
ao mais absoluto desengano.
Eu já tive a idade das histórias quer ouvia contar,
das que viviam fora dos livros,
das que corporizavam no ar os duendes e as fadas,
das que me faziam acreditar que podia ser eterno
como os príncipes entronizados no cume das lendas,
belos como cascatas refrescando a erva.
Benditas sejam, para sempre, as histórias,
mesmo as que ninguém me chegou a contar,
mas que eu inventei com o fascinado engenho
de uma infância debruada a ouro nos esconderijos
da fala que silêncio algum ousou vencer.

jOSÉ JORGE LETRIA, in PRODUTO INTERNO LÍRICO

Não podes mudar o mundo?

Porque é que os dias de escola me parecem mais compridos que os do fim--de-semana? pergunta-me o meu neto.
Porque quando gostamos do que estamos a fazer, o tempo, nem o sentimos, ao contrário de quando nos aborrecemos ou estamos cansados
Não fez mais perguntas. Estamos entendidos. Tudo é relativo.
Ontem estive com uns amigos, companheiros de uma estranha aventura: a de construir um mundo diferente.
Eram muitos? Dispõem de muitos meios? Alguém conhecido? perguntar-me-ão assustados pelo ambicioso do nosso objectivo.
Depende, contesto, e não porque seja galega, mas sim, porque como expliquei ao meu neto, penso que tudo é relativo.
Não te metas em problemas, disse-me uma amiga, não vais conseguir mudar o mundo, ganham sempre os mesmos.
Depende, só sei que eu perco se rindo-me, não faço a parte que me toca nesta maravilhosa aventura que é a vida. Será pouco ou muito: tudo é relativo.
E, se não o conseguirmos hoje, comento à saída com uma boa amiga, quem sabe o consigam os nossos filhos, ou os nossos netos. Mas nós, fizemos a nossa parte.

Dolores Vendrell

Sendo hoje dia de encontro de EEVQ, dedico-o a todos nós, os que caminhamos nesta aventura, pelos nossos altos e baixos, na certeza de que começando por nós, há grandes mudanças em curso.

Faço minhas as palavras da Dolores. Bom domingo a toda a CVX.

Porque gritamos quando estamos zangados?

Tirando a mãe do Ruca (personagenzinho politicamente correcto que povoa o imaginário infantil), que jamais perde a calma, levanta a voz ou lhe sai um cabelo do sítio, todos nós, de quando em vez, perdemos a calma, levantamos a voz e fazemo-nos presentes de forma mais ruidosa. Como mãe, nada me tira mais do sério do que pretender chegar a horas a um determinado sítio, explicar isso mesmo aos meus filhos e dar com eles a fazer tudo o que não é preciso, antes de sair de casa. Por “tudo o que não é preciso”, entenda-se a mais vasta lista de actos criativos ou não, que a mente de uma criança pode alcançar, e que vão desde jogar uma qualquer consola, pentear uma boneca, fazer desenhos, andar de skate... enfim... exemplos não faltam. É por esta altura que um ou dois tons de volume acima do normal, na voz, voltam a colocar, no lugar, todos eles.

Digam os psicólogos e afins o que disserem, há poucas coisas com tanta eficácia, desde que usados no momento certo... a voz carrega toda uma presença de sentimentos que penetra direitinho no coração dos meus filhos.

Há uma história que me captou a atenção e que deu palavras a estes sentimentos.

De autor desconhecido, aqui fica

“Porque gritamos quando estamos zangados”

Um mestre hindu, ao visitar o rio Ganges deparou-se com um grupo de familiares a gritarem entre si nas margens do rio. Virou-se para os seus discípulos, sorriu e perguntou:

Porque é que as pessoas gritam umas com as outras quando estão zangadas?

Os discípulos pensaram um pouco.

Um deles respondeu: “Porque perdemos a calma, gritamos.”

“Então, porquê gritar quando a outra pessoa está mesmo junto de ti? Podes, da mesma forma, dizer o que tens a dizer, de uma maneira suave?” perguntou o Mestre.

Os discípulos deram outras respostas mas nunca se satisfazendo por completo.

Finalmente o mestre ensinou:

“Quando duas pessoas estão zangadas uma com a outra, os seus corações distanciam-se muito. Para percorrer essa distância, precisam de gritar para que se possam fazer ouvir. Quanto mais zangadas estão, mais terão de gritar para que se possam ouvir a uma grande distância.

O que acontece quando duas pessoas se apaixonam? Elas não gritam uma com a outra mas falam suavemente. Porque os seus corações estão muito próximos, a distância entre os dois ou é inexistente ou é muito pequena.”

“O que acontece quando se amam ainda mais?” continuou o Mestre, “praticamente não falam, apenas sussurram, e ficam ainda mais próximos no seu amor. Finalmente, nem de segredar precisam, apenas olham um ao outro nos olhos, e não precisam de mais. Isto é o quão perto duas pessoas estão quando se amam verdadeiramente.”

Olhou os seus discípulos e explicou:

Por isso, quando discutem, não deixem que os vossos corações se distanciem, não digam palavras que vos distanciem ainda mais... senão, haverá um dia em que a distância é tão grande, que já não encontrarão mais o caminho de regresso. Pode então acabar em divórcio, litígio ou em tribunal.”

Domingo é o aniversário da morte de Pedro Arrupe.

"Estou, mais do que nunca, nas mãos de Deus." "Isto é o que eu quis ter toda a minha vida, desde  tenra idade. E que também é a única coisa que eu ainda amo agora. Mas com uma diferença: hoje toda a iniciativa tem-na o Senhor." "Posso garantir-vos que conhecer-me e sentir-me totalmente nas suas mãos é uma experiência profunda."

Pedro Arrupe

ATALHOS

A caminho de casa, numa manhã muito bonita, Nasrudin pensou que era boa ideia ir por um atalho pela floresta. “Porquê?” perguntou-se a si mesmo, “porque hei-de eu arrastar-me por uma estrada poeirenta, quando posso comungar da natureza, ouvir os pássaros e olhar as flores?” É um dia de sorte…

Assim o disse, melhor o fez, e lançou-se pelo meio do verdejante. Ainda não tinha ido muito longe, contudo, quando caiu num buraco, onde se deixou ficar, reflectindo.

“Afinal, não é um dia de tanta sorte assim”, meditou “de facto, é tanto quanto eu tomar este atalho. Se coisas destas podem acontecer num cenário deslumbrante como este, onde poderia eu ter caído naquela auto-estrada tão desagradável?”

Idries Shah in Spiritual short stories

A VIDA É MOVIMENTO... DANÇA!

Dança, tudo dança.

O movimento da vida é um baile sagrado onde cada passo é único e singular, cujo cenário por excelência é o coração. Não há dança sem bailarinos e não há baile sem alegria de viver. Dançar é permitir que a emoção se mova e que a energia estremeça construindo silhuetas e formas que se desfazem assim que são traçadas.

A dança é o quadro que se desenha sobre a tela do espaço, com os pincéis dos braços, das pernas e dos dedos A dança é uma escultura modelada à base de olhares, de caricias e de sorrisos, esculpidos com os pincéis da música.

A dança é a escultura que modela o corpo humano dinamizado pelo espírito que o habita, é a arquitectura em movimento, edifícios que se desprendem para se encontrarem e gerarem paisagens de beleza. A dança é a música que se escuta pelos olhos, movimento habitado, presença consciente, presente absoluto, presente para quem a executa e para quem contempla.

Dançar é mover a energia, movermos, rejuvenescermos, recrearmos e curarmos. A dança é curativa enquanto convite a fluir, a deixarmos levar e porquanto nos aligeira dos pesados fardos que carregamos.

É preciso recuperar a dança como ritual quotidiano, como movimento doméstico e como festa ordinária.

Nas casas e nas escolas dança-se pouco. É um outro modo de dizer que são espaços em que falta vida e alegria e nos quais a rotina minou o espírito festivo. Não se trata só de incorporar a dança como uma actividade, mas sim de entender que ensinar é fazer bailar as letras, os números, as ideias e as palavras no coração de uma criança para que ali possam ser acolhidas como celebração e exaltação da Vida que somos.

Educar é traçar coreografias de luz e de energia no cenário sagrado que é o coração humano, é fazer dançar os valores humanos que nos fazem divinos, é dançar com o outro, junto ao outro e, sobretudo, com o interior de si mesmo.

José María Toro

in http://grego.es/?p=1509

A vida é como o café

Um grupo de antigos alunos, bem estabelecidos nas suas carreiras, juntaram-se para visitar um velho professor da Universidade. A conversa rapidamente se transformou em queixas sobre o stress do trabalho e da vida.

Oferecendo aos seus convidados café, o professor foi à cozinha e voltou com um bule grande, e um sortido de chávenas - porcelana, plástico, vidro, cristal, algumas baratas, outras caras, outras raras - dizendo-lhes para se servirem à vontade.

Quando todos os estudantes tinham uma chávena na mão, o professor disse: Se repararem todas as chávenas bonitas e caras foram escolhidas, deixando para trás as vulgares e baratas. Enquanto for normal para vós apenas querer o melhor para si mesmos, essa será a fonte dos vossos problemas e stress.

Tenham a certeza de que a chávena, por si só, não acrescenta qualquer qualidade ao café. Na maioria dos casos, é apenas mais cara e por vezes esconde mesmo aquilo que bebemos. O que todos queriam, era café, não chávenas, mas conscientemente todos escolheram as melhores e mais bonitas taças. E depois começaram a olhar para ver o que os outros tinham escolhido e as chávenas com que tinham ficado.

Considerem então o seguinte: a vida é como o café. Os empregos, o dinheiro, e a posição social são as chávenas. São apenas ferramentas para segurar e conter a vida, e o tipo de chávena que temos, não define nem muda a qualidade de vida que vivemos.

Por vezes, ao concentrar-nos apenas nas chávenas, deixamos escapar o sabor do café. Saboreiem o café, não as chávenas! As pessoas mais felizes não têm o melhor de tudo. Apenas retiram o melhor de tudo. Vivam simplesmente. Amem generosamente. Cuidem profundamente. Falem delicadamente.

Autor desconhecido in spiritual short stories.com

EEVQ - Porque mudamos?

Este fim-de-semana que passou tiveram início os Exercícios Espirituais na Vida Quotidiana.
Numa palavra, escolheria extraordinário, porque tudo foi de facto fora do ordinário, do rotineiro, do que estamos habituados e sobretudo do que poderíamos esperar...
Pela primeira vez somos muitos, somos 33!
E há de tudo: a diversidade é tão grande que vos posso dizer que além de homens (em minoria) e mulheres, há solteiros, casados, divosciados, consagradas, há médicos, juristas, advogados, marketeers, psicólogos, gestores, donas de casa, reformados, universitários, recém-licenciados, avós, pais, filhos e netos, acho que de tudo um pouco.
Fomos divididos em pequenos gurpos, e tinhamos que escolher um nome... o nosso ficou EE de Eléctricas Espanpanantes e/ou Especialmente Espertas! Isto consoante o ambiente mais ou menos propício a um ou a outro. Por aqui podem ver que bom humor não faltou e que apesar do assunto ser sério, Deus tem muita Graça!
Foi um fim-de-semana em cheio, com muita oração, pessoal, comunitária, em pequeno grupo e em grande grupo, houve missa, almoços, lanches e jantares e o mais estranho é que em todos era suposto falar-se... Confesso que a princípio me causou muita estranheza... mas depois todos nos habituámos e lá pró fim, já o Padre Domingos tinha dificuldade em fazer-se ouvir para nos abençoar a refeição... o que logo originou de uma das nossas mais cómicas exercitandas, dois gritos para o pessoal orante se acalmar!
No meio deste cenário, houve um jogo da maior glória, que nós ,equipa das EE ganhámos, nem outra coisa se poderia esperar, mas em que 2 jesuítas foram apanhados a "cabular" e o júri andou a consultar os manuais para conseguir determinar o certo ou errado das respostas sábias que demos.
Entretanto, quem fez batota, acabou por cair no Inferno!!!!
Literalmente!
Nós chegámos à maior glória direitinhas! Com a Tintão a aplaudir!
Agora é só retomar e permanecer fiéis!


Desta experiência ocorreu-me a pergunta básica: porque mudamos?

Mudamos porque somos moldados, todos os dias somos moldados por novas experiências, e cada experiência que junto em mim, molda-me e faz-me de novo. A diferença, agora em EEVQ, é que cada experiência é rezada, para poder tirar dela o mais. Ao rezá-la, acredito estar a saborear cada experiência mais e melhor, ainda que muitas haja que sejam tristes, outras dolorosas, e outras boas. De todas, sinto crescimento, de todas tiro tristezas ou alegrias e todas, e cada uma vão-me construindo mais.
Que faço? Rezo, e espero... espero que da ordenação dos afectos me seja dado o sabor desse crescimento, para mais amar e servir.

 “PEDE-ME O QUE TE DEVO DAR” (2 Coríntios 1, 7)

A ARTE DE BEM RECEBER

Independente ninguém é
Apenas nos enganamos a nós próprios.
Sri Chinmoy

Pessoas há que acham fácil dar, mas difícil receber. Sentem que devem permanecer autosuficientes e independentes.
Há quem ache difícil dar, porque se preocupam com o ficar sem, ou com a ausência de retorno.

Por exemplo, pessoas há que estão dispostas a oferecer apoio a amigos, mas quando estão em dificuldades sentem que não devem incomodar o próximo e recusam apoio e ajuda.
É bom estar numa posição de dar; mas se não nos permitimos a nós mesmos receber, não podemos completar o círculo, negamos aos outros a oportunidade de ter a alegria de dar. E conscientemente negamos a nós próprios a oportunidade de receber aquilo que nos alegra de poder dar aos outros.

Dar é uma oportunidade de transcender sentimentos egoístas e motivos egocêntricos. Mas receber é também uma oportunidade de transcender o nosso orgulho e ego. Por vezes recusamos receber ajuda dos outros por um sentimentos de orgulho pessoal... pode até vir de um certo sentido de superioridade: quando damos, podemos sentir, provavelmente até inconscientemente, que somos superiores à pessoa a quem damos, mas se nos sentimos superiores dando, então também nos sentimos inferiores recebendo. Esse é o porquê de apenas nos sentirmos confortáveis na posição de dadores.

"O receber com graça é uma arte - uma arte que a maioria não se dá ao trabalho de cultivar. Pensamos que temos de aprender como dar, mas esquecemo-nos do aceitar... que muitas vezes pode ser mais difícil que dar."
Alexander McCall Smith

Contudo, quando aprendemos a dar e receber com equidade, não nos iremos sentir nem superiores nem inferiores. Iremos receber alegria de ambos.

tradução livre de

A flor dá néctar. A abelha dá polinização A abelha recebe néctar. A flor recebe polinização.

http://www.srichinmoybio.co.uk/blog/
A força do bambu

Chegou-me pelas mãos da Margarida do meu grupo CVX... achei lindo e aqui partilho.

BAMBU

Vinha acompanhado de duas citações:

"Um ser humano só cumpre a sua missão quando tenta aperfeiçoar os dons que a natureza lhe deu"  Hermann Hesse

"Sê paciente, espera que a palavra amadureça e se desprenda como um fruto ao passar o vento que o mereça."
Eugénio de Andrade