Os refugiados estiveram na Festa da Família

A Festa da Família, organizada pela Diocese de Lisboa na Casa do Gaiato em Loures, começou com uma oração conjunta, no pavilhão, orientada pelo Cardeal Patriarca D. Manuel. As famílias iam chegando, cada uma com o seu farnel e rapidamente entravam no esquema da ladaínha.

Entre as 11h e as 13h foi o tempo dedicado aos workshops, tendo a CVX sido convidada a tratar o tema dos refugiados. Estávamos o João Cordovil, a Joana Gomes e o João Delicado. Com medo que não houvesse ouvintes suficientes para o auditório principal que nos tinham destinado, fomos para os jardins apelar aos corações sensíveis. Conseguimos reunir cerca de 50 pessoas, de crianças a idosos, que, apesar da disparidade de idades, estiveram sempre muito interessadas e participativas.

Depois de apresentada a CVX pela voz do João Cordovil, lançámos o desafio de escolherem 5 coisas que colocariam numa mochila antes de fugirem de casa. A Bíblia foi o elemento mais mencionado, ou não estivéssemos nós num encontro católico. A água, o telemóvel e a comida vieram logo de seguida - porque nem só da Palavra vive o homem! 😉

Com os corações abertos à aventura de abandonar o país, mostramos uma reportagem da Rádio Renascença sobre a nossa experiência na Sicília (http://rr.sapo.pt/video/93756/toda_a_diferenca_voluntariamente_com_).

De seguida, a Joana começou a testemunhar sobre as suas três semanas de voluntariado, em Agosto, na Sicília, em Canicarao - um Centro de Acolhimento de Migrantes e Requerentes de Asilo.

Lá esteve juntamente com mais 3 voluntários, apoiando os migrantes, que vinham sobretudo migrantes de países africanos. Estes tinham chegado há cerca de um mês a Itália pelo que a compreensão da língua era um desafio. Começou-se assim por apoiar as aulas de italiano. Rapidamente percebeu-se que muitos nunca tinham ido à escola, pelo que se criou uma turma de alfabetização. Para ajudar à aproximação e criação de laços, e porque a comunicação foi o primeiro desafio sentido, deu-se início a um conjunto de jogos e atividades manuais. Começou-se por um torneio de pingue-pongue, passando ao futebol e dando sempre espaço para que através do desenho e das artes plásticas falassem dos seus países e culturas.

Rapidamente se percebeu que é muito mais o que nos une que aquilo que nos separa, por isso arriscou-se numa tarde de oração conjunta pela paz. Os migrantes muçulmanos e os voluntários, cristãos, rezaram, cantaram e dançaram juntos, por um mundo mais uno e igual.

Depois foi a vez do João Delicado contar a sua experiência com refugiados também em Canicarao - mas no último turno do projeto, entre Dezembro e Janeiro. Ali testemunhou que muitas coisas se mantinham: o pingue-pongue, o futebol e os jogos em volta de uma mesa feita pelos migrantes. Mas muitas outras coisas foram evoluindo. E aquele período ficou sobretudo marcado pelas festas de Natal, de Ano Novo e pela despedida do último grupo de voluntários enviados pela CVX-Europa. Entretanto houve tempo para vários milagres. Quem quiser conhecer as melhores histórias da sua experiência de voluntariado pode fazê-lo no diário que o João escreveu: chamou-lhe ‘Diário Siciliano’ e encontra-se no seu blogue ‘Ver para além do olhar’: http://verparalemdolhar.blogspot.pt/.

No final destes relatos de experiências finalmente respondemos a uma pergunta que levávamos connosco desde o início: porque é que estas pessoas arriscam a vida a atravessar o Mediterrâneo? Porque fogem a um passado que não oferece futuro. Porque procuram a paz. Porque querem contribuir para a construção de um mundo novo. Porque querem poder viver, simplesmente. E assim, ser feliz. Viver e ser feliz! Não será o que todos queremos?

E lançando pistas para o futuro sobre o que todos podemos fazer para apoiar os refugiados, terminámos o nosso workshop. Tudo se resume nisto: abrir a mente, abrir o coração e abrir as mãos: a mente, para estarmos bem informados; o coração, para acolhermos; as mãos, para nos pormos ao serviço.

Joana Gomes e João Delicado